Meu filho mente, e agora o que fazer?

Quando um filho mente não é algo natural. A criança aprende a mentir com a conduta rígida dos pais e educadores. Impondo a ela que obedeça, caso contrário, sofrerá as consequências da desobediência: será castigada ou censurada.

Quando um filho mente assusta muitos pais: “Foi você que fez isso? Eu não!” Uma das revelações mais tristes para os pais é quando notamos que nossos filhos estão mentindo para nós. Esta descoberta nos enfurece. “Como assim, ele está mentindo para mim? Eu sou sua mãe! Isso não pode acontecer! Eu sou seu pai! Você tem que me obedecer! Fala a verdade, menino!”

Mas afinal, por que seu filho mente?


Por volta dos dois anos, inicia-se o mundo moral da criança. E por quê? Porque nesta fase que vai até os sete anos de idade no geral, ocorre o desenvolvimento da linguagem oral e o pensamento da criança começa a se organizar.

Desde que está no berço e começa a imitar as pessoas e os acontecimentos ao seu redor, a criança registra em sua memória as imagens mentais de todos os estímulos que ela recebe – tudo o que ela vê, tudo o que ouve, toda ação que ela realiza ou que é testemunha.

Por volta dos dois anos de vida, a criança evoca estas experiências que ficaram registradas, juntamente com os sentimentos que experimentou, e planeja em pensamento a sua ação.

A imitação vai aos poucos dando lugar ao pensamento intencional, a criança passa a construir a consciência do que faz e a aprender que nem tudo o que ela quer, ela poderá fazer; é quando ela se depara com as regras morais que os pais, os responsáveis e os educadores as ensinam.

Meu filho mente, como a mentira nasceu?


Existem dois tipos de mentiras:

A mentira que diz respeito ao passado: “NÃO FUI EU!” Essa é a expressão característica quando a criança mente para negar alguma coisa que ela fez, mas esta mentira também pode ocorrer quando a criança afirma algo que não fez.

A mentira que diz respeito ao futuro: “JÁ VOU!” Esta mentira ocorre quando a criança promete fazer algo que não tem a intenção de cumprir.

Com as convenções e os deveres nascem o embuste e a mentira. A partir do momento em que se pode fazer o que não se deve, quer-se esconder o que não se deveria ter feito. Desde que um interesse faz prometer, um interesse maior pode fazer violar a promessa.(…) Esconde-se e mente-se. (Rousseau – Emílio ou da Educação)

A grande questão que Rousseau coloca e que nos fez refletir é que a mentira não é algo natural na criança. A criança aprende a mentir com a conduta rígida dos pais exigindo dela obediência e utilizando o castigo ou a censura como forma da criança se sentir coagida e, por fim, obedecer.

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    Meu filho mente, como ele aprendeu a mentir?


    A criança aprende a mentir pelo interesse imediato de evitar o castigo ou censura que receberá caso ela seja verdadeira, isto é, se mostrar aos pais o que ela verdadeiramente sente.

    Vamos a um exemplo:

    Uma criança sente ciúmes de sua irmã e sua reação é bater nela.

    A mãe interfere e fala, não faz isso, é FEIO bater na sua irmãzinha.

    O que ocorrerá com esta criança?

    Ela tem um sentimento por sua irmã, mas não sabe como lidar com ele, bate nela, mas a mãe a reprime. Qual é a solução para esta criança?

    Ela poderá não mais bater na irmã na frente de sua mãe, mas continuará sentindo ciúmes e, em uma resposta automática deste sentimento, quando ocorrer alguma coisa desagradável à sua irmã, ao invés de sentir compaixão, sentirá intimamente uma satisfação de ver seu sofrimento, como um BEM FEITO, guardadinho em seus pensamentos.

    Por outro lado, quando a mãe não estiver vendo, a criança se sentirá livre da censura e baterá na irmã, mas em seguida negará para a mãe o que fez, mentindo sobre a verdade de suas atitudes.

    Isso ocorre porque ao invés de ensinarmos nossas crianças a serem boas, nós as proibimos de serem más, sem que elas entendam o que é ser bom e o que é ser mal.

    Colocando como regra e lei de obediência VOCÊ NÃO PODE FAZER ASSIM e ponto, a criança reprime sua atitude, mas não deixa de ter os sentimentos que a moveram, dessa forma, ela aprende a mentir e finge o que sente.

    Meu filho mente, como não estimulá-lo a mentir?


    O caminho é ensinar nossas crianças a serem boas, ajudando-as a reconhecer o que sentem para perceber quais os sentimentos movem suas atitudes, explicando que as consequências deste sentimento não são boas para ela mesma.

    No entanto, a criança somente sentirá o valor do bem, se nós a abordamos com bondade, sem gritar ou se zangar. O exemplo de nossa postura diante da dificuldade da criança vai fazer com que ela se sinta segura para se abrir ou coibida e com medo de dizer a verdade.

    Veja uma exemplo de como abordar

    No exemplo da criança com ciúmes, uma abordagem possível seria questionar a criança sem se zangar, sendo doce e afetuoso:

    O que você está sentido neste momento? Deixando a criança falar. Em seguida explicar: Isso que você está sentindo se chama ciúmes, foi por causa dele que você bateu em sua irmã, você acha que ciúmes é um bom sentimento? Deixando a criança falar e argumentar até que perceba o ciúmes não a faz feliz. Então vamos lá, a mamãe está aqui para ajudá-la, vamos cuidar de sua irmã e então veremos como você se sentirá bem melhor. Sorri para a filha e a abraça.

    Esta abordagem é para nós um caminho a seguir, porém não é o caminho mais cômodo, pois exige de nós grande esforço para enxergar a criança como um ser integral que está aprendendo a lidar com os seus sentimentos, ao mesmo tempo em que temos que envolvê-la com amor, sendo firmes e esclarecedores.

    Mas certamente os resultados aos longo do tempo compensarão nosso esforço e a dedicação, pois estimulando a criança a falar a verdade com naturalidade e afeto, ela não terá motivos para mentir, ao contrário, ela se sentirá segura para expressar o que sente porque sabe que receberá apoio e ajuda e não repressão e punição por algo que ela mesma não consegue definir.

    Por isso, a mentira na infância pode ter perna curta, mas os sentimentos que a geram criam raízes bem profundas na personalidade da criança se não forem observados e corrigidos com amor.

    Esta é a visão da Pedagogia do Amor sobre a mentira na infância.
    E com seu filho, como você lida com este tema? Conte pra gente nos comentários!

    Há algo mais para ajudar você nesta tarefa?

    Se você precisa de ajuda para orientar seu filho neste tema, conte conosco! Conheça o nosso livro infantil Papagaio Tagarela – A fábula do papagaio e da arara azul.

    Com este livro ajudamos você a abordar o tema da mentira com seu filho de maneira lúdica e ainda oferecemos um eBook com orientações passo a passo de como conversar com seu filho sobre a mentira e como ajudá-lo a superá-la em seu comportamento.

    meu filho é fofoqueiro

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      4 Responses

      1. Kátia Costa de Brito e Brito
        | Responder

        parabens pela iniciativa e apoio, as escolas e educadores estão carentes de orientações para seguirem com novas propostas.

        • educamecomamor
          | Responder

          Agradecemos pelo seu apoio Katia!

      2. Sislene de Souza Eleutério Salles
        | Responder

        Matéria maravilhosa, amei.
        Colocando em prática em 3…2…1 kkkkkkkkk

        • educamecomamor
          | Responder

          Olá Sislene, muito obrigada pelo incentivo. A Pedagogia do Amor realmente abre nossos olhos para novas possibilidades de educar.

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